Falar do trabalho de Christopher Doyle (aka. Chris Doyle / Kefeng Du / Ho Fung To) é primeiramente, me remeter a uma coisa que ouvi alguns anos atrás de outro grande diretor de fotografia, o meu amigo Alziro Barbosa: "fotografar antes de mais nada é pintar com a luz". Se o princípio do ato fotográfico se baseia na utilização, de forma inteligente e criativa, das fontes de luz (sejam elas naturais ou artificiais), Chris Doyle pode-se considerar o maior expressionista da cinematografia mundial.
A sua câmera descortina as cenas, dança nos planos e nos revela imagens sublimes, plasticamente soberbas, principalmente nos filmes de Wong Kar-Wai, a colaboração do fotógrafo inventivo com o diretor amante do design gera tomadas lindas, mas que não são somente belas e sim "significam", todo o cenário e as coisas falam, não somente os atores, compondo uma narrativa rica que se absorve em camadas. A mão e o olhar do fotógrafo australiano são experientes e sabem exatamente tornar real a concepção estética pensada anteriormente.
Chris trabalha quase que exclusivemente na Ásia (aslavo as exceções, como o remake do Psicose de Gus Van Sant e a produção australiana Rabbit proof-fence), pois para ele "o cinema americano está seco de boas idéias" e completa: "Eles (falando dos ocidentais, Chris se refere a si próprio como oriental) acreditam em uma fórmula. Eles categorizam. Eles tentam explicar as coisas em vez de descobri-las. Eles falam antes de olhar."
A união com WKW dura mais de 10 anos e só resultou em belos e profundos filmes, como Days of Being Wild, Chunging Express, Fallen Angels, Ashes of Time, Happy together, In The Mood for Love, 2046 e Eros (episódio "A Mão"), além de publicidade e videoclipes (o soberbo Six Days - DJ Shadow). Mas esta é uma relação complexa. Num casamento artístico estruturado pela busca da perfeição, Kar-wai e Doyle têm ritmos opostos. O primeiro é lento -levou 3 anos para terminar In The Mood For Love e mais cinco anos para concluir 2046-; o segundo tem pressa, quer acabar logo um projeto e partir para outro (na China, Doyle adota outro nome: Du Ke Feng, algo semelhante à "igual ao vento"). Agora parece que estão traçando caminhos opostos, no último filme do diretor de Hong Kong, My Blueberry Nights, Chris deu lugar a Darius Khondji, que também será o fotógrafo do remake de A Dama de Shangai (o clássico do Orson Welles), a ser dirigido por WKW em 2008.
Uma pena, sabendo que a colaboração entre os dois gera obras cinematográficas de valor irrefutável, mas Chris Doyle parece estar satisfeito com os novos rumos que a sua carreira vem tomando. Ele continua fotografando filmes , principalmente na China, sendo os últimos o doentio 3...Extremos (3 episódios, dirigidos por Fruit Chan "Dumplings", Takashi Miike "Box" e Park Chan-Wook "Cut") e o inédito Green Tea (de Zhang Yuan), e agora quer voltar à direção (tinha se aventurado anteriormente em 1999, com Away with Words), após realizar um dos 20 episódios do filme Paris Je t'aime (ao lado de Walter Salles, Gus Van Sant, Mathieu Kassovitz, etc.) ele negocia um projeto que é um épico de artes marciais (estilo que bem conhece, vide sua fotografia em Ashes of Time e Herói, de Zhang Yimou).
Enquanto Kar-wai tece suas tramas de colisões amorosas e desencanto, Doyle encena, na sua própria vida, uma improvável biografia de desencontros e encontros, ele saiu da Austrália com 18 anos, já foi escavador, praticou medicina e foi marinheiro, e assim conheceu toda a Ásia.
Diz que seu fascínio pelo Oriente e pelo cinema aconteceram por acidente. "Queria aprender uma língua, e calhou de ser o chinês. Tinha bastante tempo livre quando era estudante, e alguém pôs uma câmera na minha mão. O espanto tanto em relação ao que a língua me permitiu falar e dividir, e negociar o espaço entre as maneiras como eu e a câmera vemos, são o porque daquilo que sou." Ou seja, Doyle viu muitas coisas e embarcou de cabeça numa vida sem limites, como se fosse um personagem de filme, o que lhe permitiu usar sua experiência como base para a criação artística. Além, claro, da bagagem e do próprio gosto de cada um. Para ele, importam os aspectos subjetivos. "As formas mais elevadas são dança e música. Um corpo no espaço é um poema; um som em corações alheios é para sempre. Seguro a câmera para dançar com os atores, para dá-los o maior espaço possível para serem quem eles precisam ser e para estar tão perto deles como se fosse dar um beijo. Então o espectador, pode ser beijado também." No que ele completa: "Não se existe uma forma de aprender a fazer filmes, tem que fazê-los, descobrí-los, deixar a sensibilidade aflorar acreditar no que se está filmando e se permitir ser engolido pela história, pela estética do que se está criando".
A maneira de capturar tudo o que foi falado é assistindo os filmes. Olhar a poesia visual dos filmes fotografados por Chris Doyle (em especial os dirigidos por WKW) ultrapassa qualquer entendimento.
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sexta-feira, 6 de julho de 2007
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