11 diretores de várias partes do globo uniram-se para realizar seus curtas da maneira que quisessem, contendo suas impressões e versões do fato. Cada um recebeu 400 mil euros (mais ou menos R$ 1,2 milhão), mas respeitando a cláusula do contrato que previa que não poderiam comunicar aos demais realizadores o que pretendiam fazer. A história teria que abordar a data crucial, direta ou indiretamente, e cada episódio deveria ter a duração de 11 minutos e 9 segundos cravados. A apresentação que se segue é a ordem em que os episódios são exibidos em "11'09''01".
Uma fábula esperançosa veio de Burkina Faso pelas mãos de Quedraogo Idrissa. Um dos melhores episódios de "11'09''01", é sobre alguns meninos que avistam Bin Laden no seu povoado e resolvem capturá-lo para receber a recompensa milionária dos americanos. É delicado, feito com criatividade, abordando a triste situação do continente por uma ótica diferente, que não é piegas nem muito ideológica. Ken Loach não precisa de apresentações. É um cineasta super premiado, instigante e talentoso. O episodio dele coloca um chileno exilado na Inglaterra recordando outro 11 de setembro, o de 1973, dia do golpe de estado contra o presidente Salvador Allende. Loach foi bem sucedido ao contar, utilizando basicamente imagens de arquivo, a participação americana na ação. Resultou disso um filme, do ponto de vista narrativo e estético, didático demais, engajado demais, tentando doutrinar demais o público. Apesar disso, é emocionante, fala sobre exílio, tragédia, dor de um povo, no melhor estilo documental e realista do britânico.
Chegamos ao episódio do garoto-prodígio Alejandro Gonzáles Iñarritu. Com ares de videoarte, é um filme pretensioso, aonde a tela escura e sem imagens (a maior parte do tempo) domina o filme, com sons e ruídos da televisão e rádio de todo o mundo sobre o 11 de Setembro. Algumas vezes, a tela se ilumina para mostrar cenas de corpos caindo do World Trade Center. Enfim, é tolo, é chato, não faz nada, a não ser repetir a cena dos corpos despencando das torres, querendo ser chocante. De Israel, das mãos habilidosas de Amos Gitai, surge um episódio bacana, aonde uma apresentadora ‘musa’ do noticiário de TV, chega ao local de um atentado kamikaze numa rua em Jerusalém, um pouco antes dos ataques em Nova Iorque. Amos quer traçar paralelos entre o terrorismo político e o terrorismo midiático. Para isso ele utiliza muitos planos-sequência, quase sem cortar os takes. Mesmo assim, entrega um filme sutil e crítico, tantos aos EUA quanto ao governo israelense.
Entregando o último trabalho de uma carreira muito prolífica, o japonês Shohei Imamura realiza um episódio onde um ex-combatente de guerra (2ª Guerra Mundial) que, na volta para seu vilarejo natal, não fala, não anda, não convive entre os homens. Seus hábitos viraram os de uma cobra: ele rasteja, engole ratos inteiros e, se não for cercado, desaparece para viver na natureza. Filósofico, um retrato da natureza humana, de uma dureza narrativa que só um cineasta como Imamura seria capaz de filmar. Mira Nair filma em NY. Ela, indiana, conta a saga de uma família de paquistaneses muçulmanos, imigrantes, já americanizados, que vêem o filho desaparecer no dia da tragédia. Eles saem pelas ruas, junto com FBI, que procuram o menino pelos motivos errados: acreditam que ele seja um terrorista. O filme de Mira carece de surpresas e substância. É raso, apesar de abordar o preconceito dominante nos EUA.