terça-feira, 23 de setembro de 2008

JMS e a problemática do Documentário Brasileiro



"A tirania do tema único é sobretudo a tirania do personagem sem movimento, paralisado num enredo único e pobre. De um modo geral, nosso cinema deveria olhar menos para baixo e erguer os olhos, se não para cima, onde estão os poderosos, ao menos para os lados: cineastas falando do seu mundo. Do contrário, passaremos a vida repetindo a mesma fórmula de 90% dos filmes não-ficcionais brasileiros: os que têm, repletos de piedade e de indignação, filmam os que têm menos ou nada têm. Chega de tanto zelo missionário, de tão bons sentimentos. Por que não enfrentar o que é realmente difícil? A vida da gente, os nossos afetos, a nossa eventual mediocridade, a nossa eventual impotência? Basta olhar a Argentina e aprender um pouco com eles. A respeito do debate do tráfico, acho que já estamos fazendo isso há muito tempo. **Certamente não é o cinema que dará uma contribuição importante para a discussão. Não é o nosso papel. O papel do cinema é refletir sobre si mesmo. É avançar a gramática".


João Moreira Salles, documentarista