quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Escultor do tempo narrativo


“O meu mais fervoroso desejo sempre foi o de conseguir me expressar nos meus filmes,
de dizer tudo com absoluta sinceridade,
sem impor aos outros os meus pontos de vista”

Andrei Tarkovski

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

11 de setembro, 11 filmes para relembrar

por Lorenna Montenegro


Hoje é dia 11 de setembro. O que essa data simboliza? Pode ser o aniversário de alguns, a data de casamento de outros, mas para a maioria, este dia representa um trágico evento, ocorrido há exatos oito anos atrás, que parou o mundo.




Quem consegue esquecer a imagem das Torres Gêmeas sendo atingidas pelos aviões? Foi como se estivéssemos lá, dividindo o desespero e o pesar com aquelas pessoas, americanos ou não, no meio de um acontecimento que parecia cinema, mas era muito real. Os ataques suicidas, de autoria da Al-Qaeda contra os EUA foram agravados principalmente por terem sidos transmitidos ao vivo pelas redes de Televisão de todo o mundo, algo sem precedentes na história, que feriu profundamente o orgulho nacional. Mas, mesmo com todo o pesar, um evento tão grandioso não poderia passar incólume por Hollywood. O primeiro filme lançado sobre o atentado demorou cerca de um ano para chegar às telas de cinema e, simbolicamente ou não, é um filme composto por 11 curtas-metragens, produzido pelo francês Alain Brigand.

11 diretores de várias partes do globo uniram-se para realizar seus curtas da maneira que quisessem, contendo suas impressões e versões do fato. Cada um recebeu 400 mil euros (mais ou menos R$ 1,2 milhão), mas respeitando a cláusula do contrato que previa que não poderiam comunicar aos demais realizadores o que pretendiam fazer. A história teria que abordar a data crucial, direta ou indiretamente, e cada episódio deveria ter a duração de 11 minutos e 9 segundos cravados. A apresentação que se segue é a ordem em que os episódios são exibidos em "11'09''01".



Em aspectos técnicos, estéticos e narrativos, a iraniana Samira Makhamalbaf realizou o melhor de todos. A filha do veterano Mohsen Makmalbaf tem apenas 22 anos, mas parece que aprendeu todos os meandros do cinema iraniano. No curta a câmera circula livre, na mão, com uma fluidez lenta. Além disso, Samira utiliza atores amadores – crianças, num episódio sutil que mostra uma vila miserável no Irã, onde refugiados afegãos trabalham na confecção de tijolos, abalada pela chegada de uma professora, que tenta fazer as crianças trocarem o trabalho pelos estudos e descobrirem o mundo lá fora. Vindo da Nouvelle Vague, Claude Lelouch é nome conhecido na cinematografia mundial. Sua versão da história é romântica e otimista. Um caso de amor em NY, entre um guia turístico (que inevitavelmente irá até as Torres Gêmeas) e uma fotografa surda-muda. O episódio deixa a desejar, forçando um final feliz egoísta de um drama insignificante em meio a uma catástrofe mundial.



Youssef Chahine faz diferente. O diretor é um oásis na cinematografia de seu país e não decepciona ao entregar o episódio mais polêmico de todos. Ele narra a conversa de um cineasta, também de nome Chahine, com o fantasma de um marinheiro americano, morto num atentado em Beirute. Chahine tenta convencer o fantasma de que os atentados contra alvos americanos existem por vários motivos relevantes, como o número de vítimas que as operações dos EUA fizeram pelo mundo e acaba o levando à casa de um kamikaze palestino, onde assistem a preparação do homem-bomba. É um filme provocador, o realizador mostra a o que veio, sem meias palavras. Ao evocar o conflito que destroçou sua pátria, Danis Tanovic descobre um meio de falar do dia 11 de setembro. Mostra uma mulher indo a Srebenica participar de uma manifestação de viúvas da guerra da Bósnia que, ao chegar ao local, vê que todos ouvem as notícias dos ataques nos Estados Unidos. Logo, a manifestação foi cancelada, mas ela insiste que deve acontecer e sai sozinha pelas ruas, sendo acompanhada depois pelas outras. É um filme de uma idéia só, como se não conseguisse vislumbrar o impacto que o evento causou, mostrando a indiferença do cineasta com o drama alheio e ainda entregando uma história sem nenhum atrativo.


Uma fábula esperançosa veio de Burkina Faso pelas mãos de Quedraogo Idrissa. Um dos melhores episódios de "11'09''01", é sobre alguns meninos que avistam Bin Laden no seu povoado e resolvem capturá-lo para receber a recompensa milionária dos americanos. É delicado, feito com criatividade, abordando a triste situação do continente por uma ótica diferente, que não é piegas nem muito ideológica. Ken Loach não precisa de apresentações. É um cineasta super premiado, instigante e talentoso. O episodio dele coloca um chileno exilado na Inglaterra recordando outro 11 de setembro, o de 1973, dia do golpe de estado contra o presidente Salvador Allende. Loach foi bem sucedido ao contar, utilizando basicamente imagens de arquivo, a participação americana na ação. Resultou disso um filme, do ponto de vista narrativo e estético, didático demais, engajado demais, tentando doutrinar demais o público. Apesar disso, é emocionante, fala sobre exílio, tragédia, dor de um povo, no melhor estilo documental e realista do britânico.



Chegamos ao episódio do garoto-prodígio Alejandro Gonzáles Iñarritu. Com ares de videoarte, é um filme pretensioso, aonde a tela escura e sem imagens (a maior parte do tempo) domina o filme, com sons e ruídos da televisão e rádio de todo o mundo sobre o 11 de Setembro. Algumas vezes, a tela se ilumina para mostrar cenas de corpos caindo do World Trade Center. Enfim, é tolo, é chato, não faz nada, a não ser repetir a cena dos corpos despencando das torres, querendo ser chocante. De Israel, das mãos habilidosas de Amos Gitai, surge um episódio bacana, aonde uma apresentadora ‘musa’ do noticiário de TV, chega ao local de um atentado kamikaze numa rua em Jerusalém, um pouco antes dos ataques em Nova Iorque. Amos quer traçar paralelos entre o terrorismo político e o terrorismo midiático. Para isso ele utiliza muitos planos-sequência, quase sem cortar os takes. Mesmo assim, entrega um filme sutil e crítico, tantos aos EUA quanto ao governo israelense.


Entregando o último trabalho de uma carreira muito prolífica, o japonês Shohei Imamura realiza um episódio onde um ex-combatente de guerra (2ª Guerra Mundial) que, na volta para seu vilarejo natal, não fala, não anda, não convive entre os homens. Seus hábitos viraram os de uma cobra: ele rasteja, engole ratos inteiros e, se não for cercado, desaparece para viver na natureza. Filósofico, um retrato da natureza humana, de uma dureza narrativa que só um cineasta como Imamura seria capaz de filmar. Mira Nair filma em NY. Ela, indiana, conta a saga de uma família de paquistaneses muçulmanos, imigrantes, já americanizados, que vêem o filho desaparecer no dia da tragédia. Eles saem pelas ruas, junto com FBI, que procuram o menino pelos motivos errados: acreditam que ele seja um terrorista. O filme de Mira carece de surpresas e substância. É raso, apesar de abordar o preconceito dominante nos EUA.


Para finalizar, Sean Penn, o ator, diretor, roteirista e democrata ferrenho, enche o espectador de grandes expectativas. O episódio retrata um policial aposentado (o grande Ernest Borgnine), depressivo e sozinho, morando num apartamento acabado, próximo as Torres Gêmeas. Acorda no dia 11 de setembro com o Sol invadindo o apartamento e na TV, passam cenas do ataque ao World Trade Center, mas a atenção dele está focada nas flores que estão na janela, herdadas da mulher e que, milagrosamente, voltam a florescer. É uma bela narrativa, ainda que muito subjetiva e numa abordagem que foge do eixo temático, de um lirismo redentor que deve ter dado certo alívio a Penn, que preferiu não entregar uma história mais vigorosa aos abatidos americanos.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

JMS e a problemática do Documentário Brasileiro



"A tirania do tema único é sobretudo a tirania do personagem sem movimento, paralisado num enredo único e pobre. De um modo geral, nosso cinema deveria olhar menos para baixo e erguer os olhos, se não para cima, onde estão os poderosos, ao menos para os lados: cineastas falando do seu mundo. Do contrário, passaremos a vida repetindo a mesma fórmula de 90% dos filmes não-ficcionais brasileiros: os que têm, repletos de piedade e de indignação, filmam os que têm menos ou nada têm. Chega de tanto zelo missionário, de tão bons sentimentos. Por que não enfrentar o que é realmente difícil? A vida da gente, os nossos afetos, a nossa eventual mediocridade, a nossa eventual impotência? Basta olhar a Argentina e aprender um pouco com eles. A respeito do debate do tráfico, acho que já estamos fazendo isso há muito tempo. **Certamente não é o cinema que dará uma contribuição importante para a discussão. Não é o nosso papel. O papel do cinema é refletir sobre si mesmo. É avançar a gramática".


João Moreira Salles, documentarista

quarta-feira, 18 de junho de 2008

cantando no Cinema

Jude Law and Cat Power plays Jeremy and Katya in "My Blueberry Nights"



"A few years ago, I had a dream. It began in the summer and was over by the following spring. In between, there were as many unhappy nights as there were happy days. Most of them took place in this café. And then one night, a door slammed and the dream was over."


...for the later parade

sábado, 25 de agosto de 2007

O Banquete Estético da Arte Cinematográfica

"O Cinema está morto. vida longa ao Cinema", ele disse.

Para o cineasta Peter Greenaway, um filme é feito sobretudo de imagens em movimento. Ao diretor, interessa mais a composição do plano cinematográfico do que a construção do roteiro. Seu olhar tem a mesma sensibilidade da visão de um pintor, ocupado em representar meticulosamente na tela as cores, a disposição dos objetos no cenário, o movimento dos atores diante da câmera. Não é à toa que as suas preocupações estéticas dizem de cara quem Greenaway é: um artista plástico que, antes de começar a extensa carreira no cinema, dedicou tempo integral à pintura. "A única arte que me ensinou algo foi a pintura, eu penso que ela é arte suprema.

Michael e Georgina se encontram no banheiro multicolor

Se você quiser contar histórias, seja um escritor e não um cineasta", disse Greenaway pouco antes da estréia de
O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante, em 1989. Marcado pelo estilo barroco de figurinos e cenários, o filme acaba de ser lançado em DVD e confirma ser o melhor longa-metragem do cineasta até o momento. Apesar da ênfase na plasticidade de cada seqüência, O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante não desmerece a força de uma boa história que lembra o teor visceral das tragédias clássicas gregas. Morte, sexo e poder norteiam a história do gângster Albert Spica (Michael Gambon) que janta todas as noites no restaurante Le Hollandais em companhia de seus capangas e da esposa Georgina (Helen Mirren). Cansada do comportamento violento do marido, Georgina começa a flertar com o bibliotecário Michael (Alan Howard). A traição estimula Spica a preparar uma cruel vingança contra Michael, que por sua vez será vingado por Georgina. Enquanto isso se evidencia o contraste entre o rico e pedante Spica, que também é proprietário do restaurante, e o humilde e atencioso chef de cozinha Richard. E, no meio de toda a trama, um garotinho pontua cada ato com uma melancólica canção como se suprisse o papel do coro trágico.

Spica vê-se obrigado a degustar uma iguaria exótica

Sensações oriundas do baixo ventre exercem suma importância
em O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante. Há uma intrinseca relação entre a arte culinária e o sexo. "No mundo antigo, os romanos e os gregos sempre pensaram que a alma residia no abdômen; apenas os cristãos acreditavam que ela habitava o peito. As civilizações primitivas ensinaram que a barriga é o centro do corpo e sua própria gravidade, mas o cristianismo subverteu esse princípio ao considerar o coração como o âmago do homem", comentou Peter Greenaway sobre o filme. O cineasta também não poupa o espectador da violência e da escatologia para provocar uma reflexão mais intensa sobre as paixões do homem moderno e sua natureza animal. Logo no início, vemos a polêmica cena em que o ladrão, Albert Spica, violenta um homem na entrada do restaurante e o obriga a comer os excrementos dos cachorros que estão latindo e brigando. O contraponto à sujeira externa é a cozinha esverdeada, cujo cenário denota assepsia e purificação. Aliás, cada espaço apresenta cor e luz diferente para enfatizar sua importância cênica no decorrer das ações. "A cozinha é verde porque representa a floresta de onde vem todo o alimento; o restaurante é vermelho por ser onde toda a violência ocorre; o banheiro, onde os amantes fazem amor pela primeira vez, é como o paraíso, e como tal ele tinha de ser branco; tem uma breve seqüência no hospital que é iluminada com amarelo porque para mim é a cor das crianças, dos ovos, dos recém-nascidos; e finalmente a cor da biblioteca que é ouro, representando 'a época dourada do aprendizado', o idílico tempo em que tudo no Jardim do Éden era maravilhoso", chegou a explicar Greenaway na época do lançamento do filme nos cinemas.

O quadro de Frans Hals que inspirou Greenaway no seu Banquete

Convém observar o quadro "Banquete dos Oficiais da Companhia da Guarda de São Jorge", do holandês renascentista Frans Hals, que propositalmente enfeita a parede do salão principal do restaurante para dar conta do exercício de poder de Spica, durante as fartas e exóticas refeições, e também para criticar os bons costumes da Grã-Bretanha. Todo o moralismo britânico e cristão desmorona na cena final, que apenas os espectadores de estômago forte conseguem suportar e é de um lirismo primoroso, onde Georgie desafia o marido a cumprir o prometido, a devorar o amante morto.

domingo, 19 de agosto de 2007

Spielberg melhorado? sem comparações.


A Dama na Água mesmo com todo os seus defeitos é o mais belo filme de M. Night Shyamalan. E eu os digo o porque: É uma declaração de princípios à sua forma de fazer cinema, uma carta de amor à mise-en-scène. Toda a engrenagem de seus filmes está exposta nesta fábula. Nunca vou esquecer-me da forma como ele constrói a aparição da ninfa do mundo aquático Story desde o primeiro plano do filme, simplesmente anulando o contracampo; o extremo cuidado com o plano final de Cleveland refletido na água; e a beleza do tempo de corte no fade out final. Simplicidade que se transforma em imagens singelas e com uma magia extra, cortesia também da fotografia de Chris Doyle.
Qual outro cineasta construiria tão belos planos dentro de um filme Hollywoodiano nos dias de hoje? com exceção de WKW, creio que somente o realizador indiano. Já aguardo ansiosa seu próximo filme.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

¡ Letal !

meu Almodóvar preferido*

Un Año de Amor

Lo nuestro se acabó
y te arrepentirás de haberle puesto fin
a un año de amor.
Si ahora tú tevas
pronto descubrirás
que los días son eternos y vacios sin mí.
Y de noche, por la noche,
por no sentirt solo
recordarás
nuestros días felices,
recordarás el sabor de mis besos
y entenderás
en un solo momento
qué significa
un año de amor.
Te has parado a pensar
lo que sucederá,
todo lo que perdemos
y lo que sufrirás?.
Si ahora tú te vas no recuperaraás
los momento felices que te hice vivir.
Y de noche, por la noche,
por no sentirte solo
recordarás el sabor de mis besos
y entenderás
en un solo momento
qué significa
un año de amor.
Y entenderás
en un solo momento
qué significa
un año de amor.