sexta-feira, 11 de setembro de 2009

11 de setembro, 11 filmes para relembrar

por Lorenna Montenegro


Hoje é dia 11 de setembro. O que essa data simboliza? Pode ser o aniversário de alguns, a data de casamento de outros, mas para a maioria, este dia representa um trágico evento, ocorrido há exatos oito anos atrás, que parou o mundo.




Quem consegue esquecer a imagem das Torres Gêmeas sendo atingidas pelos aviões? Foi como se estivéssemos lá, dividindo o desespero e o pesar com aquelas pessoas, americanos ou não, no meio de um acontecimento que parecia cinema, mas era muito real. Os ataques suicidas, de autoria da Al-Qaeda contra os EUA foram agravados principalmente por terem sidos transmitidos ao vivo pelas redes de Televisão de todo o mundo, algo sem precedentes na história, que feriu profundamente o orgulho nacional. Mas, mesmo com todo o pesar, um evento tão grandioso não poderia passar incólume por Hollywood. O primeiro filme lançado sobre o atentado demorou cerca de um ano para chegar às telas de cinema e, simbolicamente ou não, é um filme composto por 11 curtas-metragens, produzido pelo francês Alain Brigand.

11 diretores de várias partes do globo uniram-se para realizar seus curtas da maneira que quisessem, contendo suas impressões e versões do fato. Cada um recebeu 400 mil euros (mais ou menos R$ 1,2 milhão), mas respeitando a cláusula do contrato que previa que não poderiam comunicar aos demais realizadores o que pretendiam fazer. A história teria que abordar a data crucial, direta ou indiretamente, e cada episódio deveria ter a duração de 11 minutos e 9 segundos cravados. A apresentação que se segue é a ordem em que os episódios são exibidos em "11'09''01".



Em aspectos técnicos, estéticos e narrativos, a iraniana Samira Makhamalbaf realizou o melhor de todos. A filha do veterano Mohsen Makmalbaf tem apenas 22 anos, mas parece que aprendeu todos os meandros do cinema iraniano. No curta a câmera circula livre, na mão, com uma fluidez lenta. Além disso, Samira utiliza atores amadores – crianças, num episódio sutil que mostra uma vila miserável no Irã, onde refugiados afegãos trabalham na confecção de tijolos, abalada pela chegada de uma professora, que tenta fazer as crianças trocarem o trabalho pelos estudos e descobrirem o mundo lá fora. Vindo da Nouvelle Vague, Claude Lelouch é nome conhecido na cinematografia mundial. Sua versão da história é romântica e otimista. Um caso de amor em NY, entre um guia turístico (que inevitavelmente irá até as Torres Gêmeas) e uma fotografa surda-muda. O episódio deixa a desejar, forçando um final feliz egoísta de um drama insignificante em meio a uma catástrofe mundial.



Youssef Chahine faz diferente. O diretor é um oásis na cinematografia de seu país e não decepciona ao entregar o episódio mais polêmico de todos. Ele narra a conversa de um cineasta, também de nome Chahine, com o fantasma de um marinheiro americano, morto num atentado em Beirute. Chahine tenta convencer o fantasma de que os atentados contra alvos americanos existem por vários motivos relevantes, como o número de vítimas que as operações dos EUA fizeram pelo mundo e acaba o levando à casa de um kamikaze palestino, onde assistem a preparação do homem-bomba. É um filme provocador, o realizador mostra a o que veio, sem meias palavras. Ao evocar o conflito que destroçou sua pátria, Danis Tanovic descobre um meio de falar do dia 11 de setembro. Mostra uma mulher indo a Srebenica participar de uma manifestação de viúvas da guerra da Bósnia que, ao chegar ao local, vê que todos ouvem as notícias dos ataques nos Estados Unidos. Logo, a manifestação foi cancelada, mas ela insiste que deve acontecer e sai sozinha pelas ruas, sendo acompanhada depois pelas outras. É um filme de uma idéia só, como se não conseguisse vislumbrar o impacto que o evento causou, mostrando a indiferença do cineasta com o drama alheio e ainda entregando uma história sem nenhum atrativo.


Uma fábula esperançosa veio de Burkina Faso pelas mãos de Quedraogo Idrissa. Um dos melhores episódios de "11'09''01", é sobre alguns meninos que avistam Bin Laden no seu povoado e resolvem capturá-lo para receber a recompensa milionária dos americanos. É delicado, feito com criatividade, abordando a triste situação do continente por uma ótica diferente, que não é piegas nem muito ideológica. Ken Loach não precisa de apresentações. É um cineasta super premiado, instigante e talentoso. O episodio dele coloca um chileno exilado na Inglaterra recordando outro 11 de setembro, o de 1973, dia do golpe de estado contra o presidente Salvador Allende. Loach foi bem sucedido ao contar, utilizando basicamente imagens de arquivo, a participação americana na ação. Resultou disso um filme, do ponto de vista narrativo e estético, didático demais, engajado demais, tentando doutrinar demais o público. Apesar disso, é emocionante, fala sobre exílio, tragédia, dor de um povo, no melhor estilo documental e realista do britânico.



Chegamos ao episódio do garoto-prodígio Alejandro Gonzáles Iñarritu. Com ares de videoarte, é um filme pretensioso, aonde a tela escura e sem imagens (a maior parte do tempo) domina o filme, com sons e ruídos da televisão e rádio de todo o mundo sobre o 11 de Setembro. Algumas vezes, a tela se ilumina para mostrar cenas de corpos caindo do World Trade Center. Enfim, é tolo, é chato, não faz nada, a não ser repetir a cena dos corpos despencando das torres, querendo ser chocante. De Israel, das mãos habilidosas de Amos Gitai, surge um episódio bacana, aonde uma apresentadora ‘musa’ do noticiário de TV, chega ao local de um atentado kamikaze numa rua em Jerusalém, um pouco antes dos ataques em Nova Iorque. Amos quer traçar paralelos entre o terrorismo político e o terrorismo midiático. Para isso ele utiliza muitos planos-sequência, quase sem cortar os takes. Mesmo assim, entrega um filme sutil e crítico, tantos aos EUA quanto ao governo israelense.


Entregando o último trabalho de uma carreira muito prolífica, o japonês Shohei Imamura realiza um episódio onde um ex-combatente de guerra (2ª Guerra Mundial) que, na volta para seu vilarejo natal, não fala, não anda, não convive entre os homens. Seus hábitos viraram os de uma cobra: ele rasteja, engole ratos inteiros e, se não for cercado, desaparece para viver na natureza. Filósofico, um retrato da natureza humana, de uma dureza narrativa que só um cineasta como Imamura seria capaz de filmar. Mira Nair filma em NY. Ela, indiana, conta a saga de uma família de paquistaneses muçulmanos, imigrantes, já americanizados, que vêem o filho desaparecer no dia da tragédia. Eles saem pelas ruas, junto com FBI, que procuram o menino pelos motivos errados: acreditam que ele seja um terrorista. O filme de Mira carece de surpresas e substância. É raso, apesar de abordar o preconceito dominante nos EUA.


Para finalizar, Sean Penn, o ator, diretor, roteirista e democrata ferrenho, enche o espectador de grandes expectativas. O episódio retrata um policial aposentado (o grande Ernest Borgnine), depressivo e sozinho, morando num apartamento acabado, próximo as Torres Gêmeas. Acorda no dia 11 de setembro com o Sol invadindo o apartamento e na TV, passam cenas do ataque ao World Trade Center, mas a atenção dele está focada nas flores que estão na janela, herdadas da mulher e que, milagrosamente, voltam a florescer. É uma bela narrativa, ainda que muito subjetiva e numa abordagem que foge do eixo temático, de um lirismo redentor que deve ter dado certo alívio a Penn, que preferiu não entregar uma história mais vigorosa aos abatidos americanos.

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